Escrever ajuda-me a pensar. Escrever é o meu processo. A minha introspeção. Faz parte da minha meditação.
Escrever ajuda-me a clarificar o caminho. Põe os vários pontos de vista nas respetivas gavetas. Foi por este motivo que comecei a escrever aqui. Foi uma forma de me ouvir. De ouvir as conversas que tenho comigo. De as tornar audíveis. Para mim em primeiro lugar. E depois para quem as quiser ouvir também.
Hoje preciso de tornar audível o que tenho vindo a pensar sobre os limites. Quero escrever sobre os meus limites. Porque tenho pensado sobre de que forma estou a comunicar os meus limites. Nos últimos tempos tenho-me sentido irritada, incomodada, com uma sensação de liberdade ofendida.
Estas sensações levaram-me a desabafos. Comigo. Desabafei muito. Nesses desabafos entraram os julgamentos e eu deixei-os entrar. Como é possível que hajam pessoas que têm grande dificuldade em respeitar limites? Como é possível que existam pessoas que, em prol da satisfação das suas necessidades, condicionem as necessidades dos outros? Como é possível que existam pessoas que, de tão centradas que estão em si, não percebem que o outro não se está a sentir confortável com o que está a suceder? Ou até, como é possível existirem pessoas que, ainda percebendo que o outro não se está a sentir confortável, mantêm a sua conduta, a sua ação?
Vomitei tudo isto. E desintoxiquei. E depois perguntei-me: o que podes modificar? O que está errado aqui? Serão mesmo os outros? Onde te leva esse discurso centrado no outro e cheio de julgamento?
Descobri que todo este discurso me estava a levar a entrar num ciclo vicioso. O outro é o culpado. O outro devia ser diferente. O outro deveria perceber que está a impor as suas vontades. O outro. O outro. O outro.
E depois descobri que esse discurso estava a aumentar em mim sentimentos com os quais não me identifico de todo e que, acima de tudo, não quero alimentar. Culpabilização. Julgamento. Irritação. Ansiedade. Rancor.
E depois descobri que nada disso iria imprimir mudança. Com isto, nada iria mudar.
E percebi que sou eu. Sou eu que não comunico os meus limites. Sou eu que espero que os outros percebam, através de sinais que vou emitindo. Ausência de resposta. Cara séria. Pouca compaixão. E isso não é justo. Nem para mim. Nem para o outro.
Sou eu que devo mudar. Não o outro. Devo dizer que não. Devo ser clara na minha mensagem. E devo deixar de me preocupar com o que o outro vai pensar, ou dizer, ou achar. Devo libertar-me das amarras do julgamento.
Porque no fim de contas, eu só não digo que não por ter medo que me julguem. Por ter medo do que vão pensar. Porque não tenho coragem de lidar com aquilo que eu acho que vai acontecer.
Então, no final de contas, tudo isso tem só a ver comigo. Nunca com o outro. São as minhas coisas. A forma como estou a olhar para as minhas coisas. A forma como eu estou a julgar as minhas coisas. Os meus pensamentos. Os meus sentimentos.
E se calhar também isto tem tudo a ver contigo. E se calhar também tu precisas de avaliar de que forma estás a comunicar os teus limites e de que forma o outro está a fazer-te acreditar que é ele que tem culpa.
For Love, With Love.
IrinaVazMestre
|Psicóloga & Facilitadora de Parentalidade Consciente|
E-mail: irina.vaz.mestre@gmail.com
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