Cá por casa já temos filhos (filha) em idade escolar. A F. está agora no segundo ano. Com a entrada no primeiro ciclo, vão surgindo na vida de qualquer família outros desafios e exigências, às quais é importante ir dando resposta. Na minha perspectiva, a resposta mais assertiva possível.
Sempre concordei com o ditado que diz:”Em casa de ferreiro, espeto de pau”. Isto significa que algumas vezes me foi passando pela cabeça que, por eu ser da área e por trabalhar em contexto escolar, com alunos e professores, isso poderia não abonar a favor da minha família.
Lembro-me particularmente de um episódio em que estava a trabalhar em gabinete com uma aluna e ela me disse, com um brilho nos olhos, que a minha filha teria uma grande sorte por me ter como mãe (nessa altura ainda só tinha a Frederica, e era ainda bebé). Perguntei-lhe porquê. Respondeu-me que era porque teria sempre a minha ajuda, para qualquer dificuldade que surgisse, na escola ou fora dela, uma vez que tinha sempre a palavra certa ou o truque infalível para ensinar. Sorri apenas. E dei-lhe uma festa. Mas pensei que talvez não fosse bem assim.
E as minhas premonições não caíram por terra. Com a entrada da Frederica no primeiro ano senti-me entusiasmada. Senti-me entusiasmada, porque gosto de tudo o que tem a ver com a escola. Valorizo a escola e por esse motivo empenho-me para que tudo corra bem. E assim foi. Apoiei sempre os trabalhos de casa. Estudei com ela. Observei as dificuldades. Estimulei as competências que necessitavam de maior reforço.
E as coisas foram correndo bem. Naquele primeiro momento. Durante o tempo em que as dificuldades não eram muitas e em que não havia grande necessidade da Frederica lidar com o erro e com a frustração de errar. E quando tudo isso começou, começaram as guerras em casa.
A minha ajuda não era aceite. Aquilo que eu dizia era ouvido como más palavras. O revirar os olhos aparecia, mal eu me sentava à secretária. A célebre frase: “a minha professora é que sabe” começou a surgir de cada vez que eu tentava corrigir alguma coisa.
E foi aí que eu parei. Porque comportamento gera comportamento, e também eu estava a reagir ao seu comportamento. E centrei-me naquilo que era realmente importante. Para ela. Não para mim. Centrei-me naquilo que era realmente importante para a minha filha Frederica.
Descobri que as notas eram dela. Não minhas. Descobri que os erros eram próprios do seu caminho. Não eram erros meus, enquanto mãe. Descobri que a motivação tinha de ser dela. Não minha. Descobri que a responsabilidade era dela. Não minha. Descobri que isso fazia parte do seu percurso escolar – assumir a sua responsabilidade pessoal em todo este caminho.
E coloquei-me ao lado. Tão somente ao lado. E deixei ir. Observei. E descansei. Deixei a minha filha ser feliz no seu percurso. Apoiei no que ela quis ser apoiada. E deixei-a decidir sobre o apoio que queria.
No outro dia chegou triste. Estava realmente desiludida. Recebeu uma avaliação, nos primeiros testes que fez, que não a satisfez. Notas que no ano anterior nunca tinha recebido. E vinha triste. Deixei-a falar. E falou. Deixei-a chorar. E chorou.
E chegou a minha vez de falar (chega sempre a nossa vez). E fui tão sincera quanto poderia ser. Disse-lhe que nada disso para mim era importante. Nem a nota que teve no teste, nem o facto de ter errado muitas coisas. Nada disso me fazia gostar menos dela. Nem menos um bocadinho que fosse.
Disse-lhe que para mim, a única coisa que importava, era o que ela estava a sentir, e que mesmo assim pouco podia fazer relativamente a isso. Apenas ouvi-la. Dar-lhe colo. E daqui para a frente dar-lhe a ajuda que ela quisesse receber, caso fosse essa a sua intenção.
Disse-lhe que não está certo nem errado sentir-se triste ou feliz por ter determinada nota. Que se por acaso se sentisse normal ou até satisfeita por ter tido aquela nota estava tudo bem. Que apenas deveria ser fiel aos seus sentimentos. E se ter uma nota daquelas não serve o seu propósito e se não a deixa confortada, que pode trabalhar para mudar o que aí vem.
Disse-lhe que sempre que a tentei ajudar estava a querer livrá-la de ter esse sentimento, mas logo assim que me apercebi disso, recuei e deixei de insistir no apoio. Disse-lhe que sei de todas as dificuldades que tem e quais as suas áreas fortes. Enumerei-as. Mas nada farei para atenuar isso se ela não consentir.
E terminei dizendo que vou sempre perguntar em primeira mão se quer ajuda, da mesma forma que me vou retirar quando me aperceber que estou a interferir no seu caminho.
Porque ter filhos é isto. É aceitar que eles não são uma ramificação nossa. E que têm todo o direito de querer ou não querer. E que devem assumir a responsabilidade das suas escolhas. E que nós estamos cá, para dar colo quando eles pedirem.
Hoje estudámos juntas. E hoje correu bem.
Imagem retirada do Google
For love, with love.
IVM
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