ando sempre a pensar como posso contribuir para que as minhas filhas se resolvam com o mundo. enquanto faço o jantar. enquanto conduzo. enquanto leio livros que, supostamente, são para mim. nos meus tempos livres. nos meus tempos menos livres.
o mundo tem coisas para resolver. o mundo tem emoções para sentir. emoções que são mais fáceis. emoções que são difíceis. ando sempre a pensar em palavras. marcantes. daquelas que elas provavelmente irão recuperar nessas situações em que terão coisas para resolver.
ontem deparei-me com uma dessas. dessas situações com coisas para resolver. não estive diretamente implicada nessa situação. na verdade, fui espectadora. vi uma das minhas filhas a ouvir algo desagradável. vi nos olhos dela o seu desconforto.
levei isso para os momentos em que fazia o jantar. senti a importância de não deixar esse assunto morrer. ou de não deixar esse assunto crescer dentro dela sem ruído exterior. lembrei-me então da história dos Três Filtros de Sócrates. encaixava na perfeição. com esta história íamos conseguir de certeza tornar mais consciente. o que nós dizemos. o que ouvimos dizer. o que nos dizem.
peguei nos nossos pratos. pedi para se sentarem no chão. em roda. na sala. no tapete. relembrei-as do episódio em causa. disse-lhes que gostava de conversar sobre ele. e comecei. conta a história que o filósofo grego Sócrates, ao perceber que um amigo se dirigia a ele para lhe falar sobre outra pessoa, lhe pediu que ele usasse o teste do Triplo Filtro antes mesmo que ele lhe falasse. se aos três filtros a resposta do seu amigo fosse 'sim', então ele estaria disposto a ouvir o que o amigo tinha para lhe dizer.
filtro 1. o filtro da verdade. estás absolutamente seguro de que o que vais dizer é certo? de que corresponde à verdade? continuei a contar a história. a este primeiro filtro o amigo respondeu-lhe que não.
faço agora uma pausa na história. e introduzo a minha Pedagogia do Amor. podes ensinar os teus filhos a olharem para as situações da sua vida usando o filtro da verdade. esta é a minha verdade? isto que estou a ouvir corresponde mesmo à verdade? estou certo daquilo que vou dizer ou fazer?
quando ensinamos os nossos filhos a utilizar este poderoso filtro, estamos a ajudá-los a desintoxicarem-se. de pessoas. de emoções. de atitudes deles. de atitudes de outros.
filtro 2. o filtro da bondade. depois de chumbar no primeiro filtro, Sócrates continuou a questionar o seu amigo. é algo bom o que me vais dizer sobre o meu amigo? tem bondade imbuída? a resposta foi não.
pausa novamente. Pedagogia do Amor. habitua os teus filhos a filtrarem todas as suas ações (e as dos outros) pelos poros sensíveis deste filtro. é algo bom? tem bondade associada? destrói? constrói?
isso vai permitir. primeiro. que outros não os destruam a eles. com palavras. com ações. segundo. que eles não destruam outros. com palavras. com ações.
filtro 3. o filtro da utilidade. por último, Sócrates acrescentou. desejas dizer-me algo de mal sobre o meu amigo e ainda assim não tens a certeza de que isso que me dizes esteja certo. de qualquer das formas, posso querer ouvir-te. diz-me por favor. serve-me de alguma coisa saber o que me vais dizer sobre o meu amigo? é útil? para mim. para ele. resposta negativa.
última pausa. Pedagogia do Amor. faz crescer nos teus filhos o bom senso. permite-lhes pensar sobre a utilidade dos seus atos. dos atos dos outros. para a sociedade em geral. para a vida deles em particular. dá-lhes essa ferramenta. dá-lhes isso.
quando eles pensam sobre a utilidade do que comunicam, fazem ou são, eles têm nas suas mãos o poder da decisão. ou escolhem fazer. ou escolhem não fazer. ou escolhem dizer. ou escolhem não dizer. ou escolhem ouvir. ou escolhem não ouvir.
ah. e já agora. não te limites a ensinar estas lições aos teus filhos. usa-as tu também.
beijos mil.
IrinaVazMestre
por um mundo melhor.
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